terça-feira, 27 de maio de 2008

Escuridão!...



Todos gostamos de ter dias felizes... mas grande parte das vezes... não obstante querermos mostrar a vida clara e transparente... ela acaba por parecer-nos uma tortuosa escuridão.
Estamos em pleno mês de Maio. Cá para os nossos lados há campos verdes ou com plantinhas a crescer por entre a escuridão da terra lavrada! Montes floridos de onde sobressai o amarelo das giestas, do tojo e da carqueja e o cor-de-rosa da urze! Algumas flores brotam nos jardins! Chilreiam passarinhos! Entretanto, as nuvens vão-se adensando no espaço teimando em esconder o Sol, em arrefecer os já longos dias, em deixar cair chuvas bastante continuadas. É a Natureza a fazer escuridão!
Noutros recantos do planeta a terra treme desmedidamente e os ventos e temporais devastam e arrasam as populações sem dó nem piedade. É a Natureza que continua a fazer a escuridão!
Um pouco por toda a parte furtam-se bens e vidas. O medo cada vez se torna mais numa constante e desoladora ameaça à tranquilidade e paz. As maravilhas da informática, em vez de serem aproveitadas como canais de aprendizagem de bons costumes e desenvolvimento e concretização de saberes muitas vezes acabam por servir a difusão de ideais perversos e subversivos. A “plebe” atropela-se na busca dos meios de sobrevivência, os senhores do mundo alargam os seus proventos vertiginosamente, os políticos são homens e mulheres com todas as qualidades e defeitos que daí advêm acrescidos daqueles que são apanágio das pessoas que se habituam a ocupar cargos de poder e chefia. Os bons costumes são muitas vezes estupidamente vistos como coisa do passado e os valores humanos e cristãos são cada vez menos frequentes. Agora, é o próprio “homem” a fazer a escuridão!
Aqui e além erguem-se e vão-se multiplicando algumas luzes a mostrar o caminho do bem... mas o nevoeiro da ilusão, que não quer deixar propagar essa luz... vai cegando os olhos de quem tem pouca força para caminhar e não encontra quem o puxe pela mão. É a falta de solidariedade a fazer a escuridão.
No meio das amarguras da vida a desilusão e o cansaço vão-nos fazendo perder as energias positivas... e quando isso acontece... é o ser que faz a sua própria escuridão e muitas vezes acaba por não conseguir sair dela sozinho!
Como tenho saudades dos Maios solarengos no corpo e no espírito... das corridas na busca das flores silvestres... dos sorrisos francos de tantos amigos leais... e do encontro comigo mesma na doce tranquilidade do trabalho simples e pouco remunerado... mas onde se sentia o aconchego carinhoso de um pai e de uma mãe unidos em corpo e alma... o amor sincero e desinteressado de um vizinho... a escuta solidária de um companheiro ou companheira!...´
Se existem amigos agora... existem... é uma verdade... mas mais do que nunca só muito bem escolhidos.
Não consigo entender como numa época de tantas luzes pode haver tanta escuridão!... Satisfaz-me o saber que cada um de nós pode ser luz... e resta-me incentivar a que cada um procure sê-lo de verdade, pois é um trabalho individual para o bem de todos!
Coragem e determinação! O mundo precisa que deitemos mãos à obra!


Hermínia Nadais


Publicada no Notícias Cambra

sábado, 17 de maio de 2008

FAMÍLIA E SOCIEDADE


Para muitos de nós é sobejamente reconhecido que uma pessoa, para o ser em plenitude, com força de vontade e auto domínio, necessita de uma boa integração familiar e social.
"Família" e "sociedade", são dois conceitos distintos e complementares, mas de certo modo iguais e mutuamente dependentes.
Quando falamos de família queremos referir-nos expressamente à chamada família nuclear, isto é, o casal e seus descendentes. De facto, é essa a primeira comunidade social de um recém-nascido, de uma pessoa. Segue-se-lhe a família alargada, ou seja, a comunidade formada pelo conjunto das várias famílias nucleares incluídas na árvore genealógica de que essa família nuclear faz parte. Muitas famílias formam uma aldeia, vila cidade... e há freguesias, concelhos, nação, nações... sociedades cada vez mais alargadas e dos mais divergentes hábitos, costumes, tradições... E, dentro dessas comunidades gerais, surgem muitas outras para a realização de cada um segundo as necessidades ou gosto pessoal: escolas, associações culturais, desportivas, religiosas, de caridade e assistência... E é um nunca mais acabar de instituições e associações da carácter social, colectividades que têm por fim a protecção, o desenvolvimento e a realização pessoal do indivíduo. À semelhança da família, cuja representação e gerência é efectuada pelo casal que a constituiu, as instituições também têm órgãos representativos e de gestão: numas esses órgãos, tal como nas famílias, são as próprias pessoas que as imaginaram e puseram a funcionar; noutras, é feita a escolha obedecendo a leis previamente estabelecidas.
Todas as instituições têm estatutos, regras de convivência social, são geridas e representadas por alguém. A família, a primeira de todas as instituições na nossa vida, tem leis de orientação e protecção bem definidas. Diferente de qualquer outra onde o elo de ligação dos associados pode apresentar múltiplos interesses, o conceito de família está assente no amor mútuo e ligado aos laços de sangue, à continuação da vida. Nenhuma outra instituição tem fim tão sublime, mas também nenhuma tem tanta responsabilidade na sociedade onde está inserida. Em qualquer outra instituição, entra quem quer ou necessita; na família, não é assim. A constituição de família, o viver em família, partilhar com alguém os desejos e ambições, faz parte de cada um de nós, é inato. É por esta necessidade de convívio e partilha de vida que há tantas famílias resultantes de ligações pouco aceites e menos habituais. Somos seres sociais, não fomos criados para viver sós. No entanto, numa família normal que é constituída livremente por duas pessoas complementares entre si, ligadas por amor, de cujo fruto nascem os filhos!... Filhos que não pedem para nascer... não têm culpa de nascer... mas, uma vez aparecidos, têm direito à vida, a uma vida digna, com amparo, protecção e orientação adequada.
Fala-se muito da protecção à família, mas quanto mais se fala em protecção, mais problemas familiares atingem a sociedade em geral. E o processo educativo das nossas crianças e jovens sofre as graves consequências dos problemas angustiantes dos pais. O caso é muito grave, gravíssimo mesmo. É caso para muita reflexão. Estou certa de que, se houvesse tempo e predisposição para pensar... muito ficaria diferente.
Queridos pais, aflitos com tantos problemas: Vamos parar um pouco para olhar profundamente as drásticas alterações da participação do homem e da mulher na vida familiar e social com as implicações que daí resultam; ver o que há de bom e mau; e, finalmente, tentar interiorizar e viver o que acharmos melhor para a felicidade de cada um de nós que será, sem dúvida, a felicidade de nós todos.

Hermínia Nadais
Publicada no Notícias de Cambra

quarta-feira, 7 de maio de 2008

LIBERDADE... até quando!...


Vivemos recentemente a passagem de mais um “25 da Abril” a que os portugueses se habituaram a chamar “dia dos cravos” ou “dia da liberdade”.
Qualquer destas expressões está correcta. Mas... não basta falar de liberdade, é urgente que na vida pessoal e social não se viva em anarquia.
O nosso País tem os seus filhos desterrados espalhados por todo o mundo... enquanto cá dentro abundam pessoas estrangeiras ligadas aos mais altos negócios ou mesmo vivendo de mendigagem; aumentam desmedidamente os roubos e os actos de vandalismo contra pessoas inocentes; desde os políticos e ricaços aos mais carenciados temos que ter sempre a maior atenção a toda a forma de proceder porque na maior parte dos casos não há coerência entre o que dizem e o que fazem; os valores humanos e espirituais são relegados, e assiste-se a um sem número de famílias desagregadas e a filhos cada vez mais abandonados à sua sorte ou então sumamente mimados por ambos os progenitores e seus familiares que não querem perdê-los e os compram da forma que entendem melhor; o mercado de trabalho está cada vez mais exigente e a população cada vez mais envelhecida, pois perderam-se os verdadeiros valores da vida e não há incentivos à natalidade; as igrejas estão cada vez mais desertas, porque cada vez mais se retira Deus da vida e se criam deuses à maneira humana (dinheiro, sexo, grandezas, poder); na procura de resposta para o mal estar geral os curandeiros, psicólogos e psiquiatras vêm os seus consultórios a abarrotar, quando as verdadeiras respostas deveriam procurar-se acima de tudo bem dentro de cada um na forma como encarar a verdadeira dimensão da vida e a verdadeira forma de bem viver!...
Francamente!... Chamem-lhe o que quiserem... mas isto... realmente... não é liberdade nenhuma! Quando muito... será um começo... e muito mal começado!...
Sou acerrimamente contra toda e qualquer opressão. Mas... é hora de me questionar:
- Por onde anda a verdadeira educação para a liberdade? Que tipo de vida é dada aos agentes de ensino? Como andam os currículos escolares?
E... mudando de assunto:
- Como andam as fugas ao fisco? Qual é o montante dos salários dos grandalhões... das suas pensões de reforma... e quais os míseros tostões que recebem os pobres desamparados e velhinhos? E a assistência médica às pessoas idosas acamadas ou incapacitadas de se movimentar... começa a ir o médico a casa visitá-las regularmente... ou para não morrerem à míngua terão de continuar a ter de pagar caro essa visita com os poucos proventos que têm...e caladinhas para não serem punidas? Qual o incentivo ao trabalho... e a desmotivação para a procura desregrada do fundo de reinserção social ou rendimento mínimo garantido? Qual o cuidado com a saúde laboral de tantos que são obrigados a trabalhar sem poder... contra tantos outros que já não trabalham e deveriam fazê-lo? Como vamos melhorar o processo dos empregos por “cunhas” e não por capacidades? Valha-nos a santa liberdade!!!...
Tantas coisas erradas... vão-nos retirando de ver e sentir o quanto é bom viver em liberdade... porque, viver em liberdade, é realmente muito bom! Mas... ser livre, não é, de forma alguma, ter-se tudo o que se quer e apetece... é cada um fazer tudo quanto possa para o bem comum obedecendo a regras ainda que, caridosamente, tenha de as contestar.
Até quando?!... Tanto tempo passado... e ainda estamos tão longe de sabermos viver em liberdade!... É muito bom questionarmo-nos para podermos encontrar o melhor caminho a seguir, uma vez que a liberdade é uma tão grande utopia que só existirá na medida em que partir bem de dentro de nós... do exacto cumprimento de todo o nosso dever de cidadãos portugueses e do mundo!...
Mãos à obra! Não há tempo a perder!

Prof. Hermínia Nadais
Publicada no Notícias de Cambra

quinta-feira, 1 de maio de 2008

CULTURA GERAL


Falar de cultura e sabedoria é parte integrante da linguagem do nosso tempo. O alargamento da escolaridade obrigatória implicou o desabrochar substancial da necessidade premente do aumento de instrução. A televisão, pelas mais diversas formas, traz aos nossos ambientes familiares e sociais os costumes, vivências e tradições das mais variadas civilizações. Os livros, revistas e jornais proliferam por toda a parte. Carros itinerantes com Bibliotecas Móveis vagueiam pelas aldeias mais recônditas. As acções de formação a todos os níveis são inúmeras. Em muitas localidades já são poucas as famílias que não possuem computador e Internet. Sem sombra de dúvida o nosso meio ambiente oferece-nos uma infinidade de meios que nos podem levar a um enriquecimento cultural constante, a situações que, se bem aproveitadas, podem levar a um permanente estado de aprendizagem.
Ser culto, ter muitos conhecimentos, é um desejo inato de toda a gente, pelo que apelidar de inculto pode tornar-se mesmo num dos maiores insultos.
Esta maneira de ver a humanidade pode parecer-nos descabida, pois temos por hábito pensarmos inculta ou atrasada uma pessoa que não tem cursos académicos... não tem profissão daquelas que exige indumentárias bem alinhadinhas e aspecto pessoal muito bem cuidado... não ocupa cargos de relevo nas associações comunitárias... ou não faz nada de relevante, e o nosso péssimo hábito de julgar pelas aparências... leva-nos a esquecer estupidamente que uma pessoa não vale pelo que faz ou mostra mas sim pelo que realmente é. Contudo, só conhecerá verdadeiramente a pessoa quem conseguir entrar no seu interior, e isso é apanágio de Alguém que nos transcende, que está acima de nós... o único que pode ajuizar com eficiência. Nós, seres humanos, nunca estaremos aptos a julgarmos convenientemente nem a nós mesmos... como poderemos querer fazê-lo com os outros?!...
Haja honestidade!
Todas as pessoas são importantes, cada qual da sua maneira! E quanto a saberes, cada pessoa, conforme o meio socioeconómico e ambiente familiar onde nasceu, adquiriu um certo tipo de saber, uma certa maneira de agir, uma certa forma de estar e de ser... um certo tipo de cultura.
Se analisarmos mais profundamente, chegaremos à conclusão de que há um sem número de culturas específicas de cada Continente, de cada País, de cada Província, de cada ambiente profissional... de cada tipo de lazer... de cada religião... de cada pessoa em particular! Se assim não fosse... nunca poderíamos afirmar que “Cada um de nós é único e irrepetível!”
Neste contexto, ter cultura geral é apresentar um conhecimento mais ou menos alargado dos diversos tipos de saberes existentes em cada cultura específica, é possuir uma forma de saber mais abrangente, o que leva a uma forma de estar mais segura em toda e qualquer circunstância.
Procurar ser cada vez mais culto, ter sabedoria, é partir à procura do que é transcendente para si mesmo em determinada ocasião, e que só deixará de ser transcendente, quando for bem assimilado e integrado na vida – aprendido de verdade.
Cultura e transcendência caminham de mãos dadas com todo o ser humano que, quanto mais procura o enriquecimento dos seus saberes, mais cresce de uma forma global, ou seja, no seu todo que abrange o científico, o intelectual, o humano, o espiritual. O transcendente é algo sublime, excelente, superior, importante, que está acima do ser.
Há realmente conhecimentos que nunca conseguiremos nesta estrada da vida e serão sempre transcendentes para todos nós. Mas, está provado cientificamente que o desenvolvimento do ser humano está muito abaixo das suas potencialidades normais. Assim sendo, para o homem, todo o esforço dispendido por obter a aprendizagem que ainda não conseguiu assimilar para com ela poder preencher minimamente o vazio insaciável do seu coração, será sempre a busca do transcendente.
Toda a espera é prejuízo. Mãos à obra!...

Hermínia Nadais
Publicada no “Notícias de Cambra”