quinta-feira, 27 de março de 2008

Máscaras... não!


Várias vezes... frente ao espelho do meu quarto, quase não me consegui reconhecer. Com tão estupefacta alteração, apostaria mesmo a dizer que o “meu rosto”... não era o meu. Pensei muitas vezes no porquê das bruscas variações, mas sem resposta. Na calmaria de um final de tarde depois de um dia tranquilo e aquando a preparação do descanso nocturno, maquinalmente, olhei o espelho. De novo, fiquei surpreendida!... Embora num sentido inverso, “aquele rosto”... também não me parecia o meu. Aproveitei a jovialidade da noite para perder-me da televisão e interiorizar as várias imagens tão reais... e tão diferentes... observadas no silêncio mudo daquele espelho que parecia querer dizer-me alguma coisa. Quedei-me por instantes... não a rever a incompatibilidade incompreensível da leitura feita às imagens observadas... mas a descortinar umas outras imagens, bem mais profundas e reais do que aquelas que ali me representavam, muito embora com expressões tão diferentes... naquele que era... de facto... o meu retrato.
Passados momentos, a resposta foi-me clara.
Afinal... era sempre ali que eu me encontrava... sem nada que me perturbasse... no escuro da noite! Frente ao espelho, eu... somente eu... sem qualquer “máscara”... sem nada a esconder a minha verdade!
Sem sombra de dúvida, as variações do “meu retrato” demonstraram-me a sensação exacta da grande realidade do provérbio popular: “O rosto, é o espelho do coração!”
O coração triste e amargurado esconde o brilho do olhar e ensombra o rosto; o coração feliz, põe o rosto a irradiar felicidade!... E, qualquer destas situações que parecem diferenciar o rosto alterando por completo a sua expressividade, são a representação infalível da realidade ocasional de cada um no mais profundo do seu ser.
A época que atravessamos, para muitos, é ocasião propícia para disfarçar o rosto com as tradicionais máscaras de Carnaval... Máscaras... que tantos de nós... para esconder as amarguras da vida... decidimos colocar sobre o rosto nos trezentos e sessenta e cinco dias de cada ano!... Até quando!?...
Que bom seria que pudéssemos reconhecer, sempre e em qualquer situação, em todos os rostos... não os aparatosos disfarces... mas os verdadeiros espelhos dos corações!...
Mas não podemos iludir-nos! O retrato de qualquer rosto... só poderá ser realmente visível para o seu dono e seus verdadeiros amigos.
Que bom ter amigos!!!...
Fala-se muito em amizade!... Será que algum dia conseguiremos ser, de facto, amigos... de nós mesmos... e de todas as pessoas com quem convivemos?!...
Esta é a tarefa mais difícil de todas as criaturas?!... Que a consigamos levar a bom termo! Máscaras... não!


Hermínia Nadais
Publicada no Notícias de Cambra

domingo, 23 de março de 2008

A sociedade e a família





No desenvolvimento sociocultural do indívíduo é imperativo a existência da Escola, pois a Escola, "fruto das nossas vivências diárias", e a Escola, "Instituição", numa intercomunicação activa, completam as aprendizagens efectuadas por cada ser ao longo da sua existência.
O limiar da aprendizagem a efectuar é uma incógnita. O primeiro professor de uma criança, melhor, de um recém-nascido, ou de um ser que ainda nem sequer nasceu são os seus progenitores; depois, os restantes familiares e pessoas próximas. Se assim não fosse, como se justificaria a existência de tantos "sábios" analfabetos num passado ainda não muito remoto?
Na sociedade, quer queiramos ou não, todos, sem excepção, somos eternamente professores... e eternamente alunos... Naturalmente vamos construindo e solidificando a nossa aprendizagem com as atitudes dos outros e levando os outros a uma alteração comportamental assente na maior ou menor visualização e interiorização do exemplo a tirar das acções que vamos praticando.
Em face do exposto, surge a questão que, em uníssono, devemos proclamar:
-Como poderemos educar-nos, para podermos educar os que nos rodeiam?
De uma maneira geral, os problemas da Educação são colocados à Escola, onde trabalham os "professores profissionais" com a missão exclusiva de "Educar". A culpa das irreverências cometidas pelas crianças e jovens recai, acima de tudo, sobre o Sistema Educativo; depois, sobre a família, uma vez que grande parte dos nossos educandos provém de famílias com graves sequelas; o Meio Social também é lembrado, mas no final, e com muitas reticências. É que a "Sociedade", somos todos nós, e é difícil admitirmo-nos como culpados das infracções cometidas por essa "Sociedade" de que somos parte integrante.
Qualquer Homem é fruto da sua genética, ambiente familiar e meio socio-económico e cultural circundante; e para ser "Homem" em "plenitude", terá que viver de acordo com este triplo enquadramento extraindo dele todo o potencial necessário à sua realização pessoal e inserção social.
Não é tarefa fácil. Vamos desenvolver um pouco o primeiro ponto invocado.
A hereditariedade do ser, marca-o, para o bem, ou para o mal... Por mais que queiramos fugir desta realidade, ela persegue-nos indefinidamente.
A nível de Instituições Escolares ou outras Instituições Sociais, muito se tem feito para minorar o efeito nocivo da criação de semelhanças comportamentais entre pessoas oriundas das mesmas famílias; mas, mesmo assim, o filho de pais considerados "marginais" nem sempre é tido em parceria com o filho dos considerados "pessoas de bem". E, quando não, aparece "o certo" ou "o descalabro" de alguns provérbios populares:
-"Quem sai aos seus não degenera"; "a acha sai ao madeiro"; "filho de burro sai cavalo"; "filho de peixe sabe nadar"... que se aplicam muitas vezes para justificar a observação do bom ou mau procedimento das acções praticadas.
Quaisquer destas expressões são muito fáceis de admitir pelos sujeitos observados quando trazem consigo as boas qualidades que os seus progenitores possuíam; mas se se trata de algo de mau, normalmente, não são aceites pela pessoa a quem o provérbio se refere. E o mais grave é que, pedagogicamente falando, pode marcar o indivíduo pelo lado oposto, uma vez que o comportamento dos filhos nem sempre é como o dos pais, pois a sua educação não dependeu exclusivamente deles mas do triplo enquadramento supracitado que pode, de certo modo, mudar radicalmente as coisas.
Baseados nestes factos há outros provérbios que dizem:
-"Num bom pano cai uma nódoa"; "de uma boa geração sai uma (má) mulher ou um ladrão"...
Pela prática, sabemos que todos os provérbios apresentados descrevem puras e autenticas verdades em situações pontuais. A voz do povo é forte! A sabedoria popular é muito perspicaz e oportuna, tem sempre resposta para todas as situações.
E onde está a sabedoria popular? Quem é o povo?
O povo são as pessoas dispersas pelas mais díspares povoações. A sabedoria popular está nos seus conhecimentos empíricos, nos seus costumes cheios de sentido prático e ricos de experiência.
Onde está a génese desse povo? Onde é praticada e cultivada a sua sabedoria?
A génese de um povo está na sua constituição familiar que, sem dar por isso, transmite cabalmente a sua cultura e tradição até ao mais pequeno pormenor. Ao falar-se de um povo fala-se, indubitavelmente, das famílias por que esse povo é constituído, sejam essas famílias constituídas da forma que forem. As alterações de comportamentos sociais partem sempre da mudança de atitudes no seio familiar. E quando as famílias não têm as condições necessárias às mudanças desejadas, os atropelos surgem... o inesperado acontece!... E a sociedade, família alargada, passa a viver debaixo do jugo do provérbio popular que diz: "Casa onde não há pão todos ralham... e ninguém tem razão!"
Mas nada pode ser feito de um dia para o outro। A interiorização das novas atitudes a pôr em prática é lenta e tem de ser muito bem apresentada por alguns e muito bem compreendida e acatada por todos. Por todos, digo, porque os que apresentam soluções ou metas a seguir com segurança são os que mais têm que compreender as controvérsias que as suas palavras criam e de saber esperar, pacientemente, pelo fruto do seu árduo trabalho cujos resultados virão, sim, mas muito mais tarde...

Hermínia Nadais

Publicada no Notícias de Cambra

quinta-feira, 20 de março de 2008

No coração ninguém manda



No coração... ninguém man­da! Talvez sim... ou talvez não! Acredito muito sinceramente que esta afirmação seja verda­deira, num jovem adolescente à procura da sua “cara me­ta­de”.
Realmente, com estes...às vezes... geram-se tremendas confusões: parece que querem uma pessoa e acabam por vol­tar-se para outra; depois, há os que se ficam por ali, e os que voltam de novo para trás; e, ainda, os que se vão man­tendo indefinidamente à pro­cura de alguém que acabam por nunca encontrar. Mas... se­rá que realmente no coração ninguém manda? Esta frase cos­tuma aplicar-se quando os casais de namorados se zan­gam ou quando o homem ou a mulher casados se ignoram... ou se relacionam profunda­men­te com terceiras pessoas. Muito sinceramente... nestas circunstâncias... o dizer que no coração ninguém manda... salvo, “talvez” algumas raras excepções, é uma desculpa mui­to esfarrapada para quem quer fugir da sua missão no lar ou fazer da vida um antro de desacertos. Se o homem é Ho­mem e a mulher é Mulher, nun­­ca descuram o seu auto-co­mando, ou, pelo menos, vão tentando colocar ao seu ser­viço todas as suas capacidades numa luta constante e resoluta contra as intempéries de mo­mento, tudo fazendo para não se desviarem do caminho cer­to, confiantes de que Deus, que nunca desampara, lhes fará o resto.
Se tivermos um pouco de bom senso e compreensão, aca­bamos por verificar que a vida é muito simples, nós é que a vamos complicando con­tinuamente: umas vezes, des­con­fiamos ou confiamos de­ma­siado nas atitudes das pes­soas que nos cercam; outras, imaginamos que as vidas po­dem ter todas o mesmo fim; mas, não. Isto de se dizer que “fomos criados aos pares”... não é de todo verdade. De fac­to, se há os que foram cria­dos para viver aos pares, há também os que nasceram para viver sozinhos... e não creio, de forma alguma, que estes se­jam os mais infelizes, muito pelo contrário. O homem ou mulher, que vivem sós estão isentos de quaisquer submis­sões primárias, o que lhes dará maior oportunidade de se de­di­carem mais ao seu próprio cres­cimento interior e às cau­sas sociais, o que poderão fazer de “corpo inteiro”.
Estúpida - dirão। Pois posso ser estúpida... retrógrada... ou o mais que me quiserem cha­mar! Mas... como a maior parte das pessoas pensa que a feli­ci­dade se vai buscar ao casamen­­­to, que respondam os casados: Será que a tão sonhada feli­ci­dade se vai buscar ao casa­mento?!... Muito sinceramen­te!... De forma alguma. A feli­cidade... não se vai buscar a la­do nenhum!... Ou se conquis­ta e se tem, ou não se conquista e não se tem. A felicidade surge e é vivida e trabalhada bem no interior de cada um. O resto... é fachada. Quantas pessoas “muito bem casadas”, vestidas com belos fatos, cabelos e unhas bem alinhadas, com bo­­­nitos sorrisos nos lábios, en­feitadas com boas e requinta­das jóias e com as carteiras cheias a abarrotar... e que vi­vem com o seu interior (cora­ção) mais vazio que o nada e mais triste que a tristeza!... É que a verdadeira felicidade pro­cura-se e constrói-se no de­­correr da vida, ao som de su­cessos e fracassos, e sonhan­do apenas com o bom desem­penho da missão que temos de cumprir na terra. Assim sen­do, não procuremos a feli­cidade onde ela não está, pois, por nunca a conseguirmos al­­cançar, corremos o risco de não acreditar mais que ela al­guma vez possa existir. A fe­licidade humana, pode parecer uma utopia; no entanto, ela exis­­te, sim, mas apenas se a sou­bermos encontrar, ir des­cobrindo aos poucos e viver com ela e para ela, conjugando, com a maior força e perfeição possíveis, o uso da razão e o do­mínio do coração, para as­sim podermos dizer, com ver­dade, não que “no coração nin­guém manda”, mas que con­seguimos, realmente, do­mi­nar os “desastrosos” e “des­regrados” ímpetos do coração.


Hermínia Nadais
Publicada no Notícias de Cambra

segunda-feira, 17 de março de 2008

O boneco do Edgar




No interior das beiras, onde o tempo de uma criança vagueia entre a escola e o lugar mais aprazível à pastagem dos caprinos e ovinos, vivia um casal com os seus filhos.
Decorria o gélido mês de Janeiro. Edgar, o mais novo dos três, saltitava de contente esfregando fortemente as pequeninas mãos. É que, por fim... depois de uma longa época de interrogações abafadas pela razão da persistente chuva outonal, a serra acabara por lhe matar a saudade cobrindo-se com um enorme e denso manto de alva neve, o fulgor da sua vida e o encanto para o seu olhar. Os rebanhos obrigados a permanecer nos estábulos pelo rigor da temperatura e a impossibilidade de ir às aulas pela intransitabilidade dos caminhos... forneciam-lhe o tempo necessário para calcorrear ligeira e livremente pela neve, rebolar-se nela com força ou nela deslizar suavemente... vindo a quedar-se, algures, em local propício. Na ânsia de conseguir surpreender os familiares com as suas habilidades, lançou-se com toda a criatividade e empenho na construção da tão querida e sonhada obra. Sem ponta de frio, as adestradas mãos depressa conseguiram levantar um forte e alto cone. Do bolso do kispo tirou a cenoura para o narizito e valeu-se do seu próprio boné e cachecol para realçar a forma da suposta cabeça, ajeitando de seguida muito habilmente o seu cajado de pastor conseguindo dar ao boneco um aparente e gracioso movimento. E... parou por momentos frente ao seu “ídolo”... a fim de lhe averiguar a perfeição, ou a necessidade de lhe dar mais alguns retoques. Entretanto, o Sol, que subira na espaço, espraiava pela ladeira os seus flamejantes raios que aumentavam ainda mais o fulgurante brilho daquele paraíso de fadas. Ao olhar atentamente em redor, verificou que não havia por ali alma viva que pudesse alterar a deslumbrante e encantadora obra de arte executada pelas suas frágeis mãozinhas. E num repente... correu alegre e veloz em direcção a casa.
Abafadamente aflita pelo inesperado e súbito desaparecimento do seu pequenino, a mãe, ao vê-lo, correu para ele transbordante de contentamento, abraçando-o com a maior ternura. Exultante de entusiasmo, o petiz, desembaraçando-se dos mimos da mãe e sem permitir que esta conseguisse pronunciar qualquer palavra, chama apressadamente todos os familiares para que o acompanhem. Perante tal comportamento, acorreram ligeiros e sem hesitações pensando nalgum acidente a socorrer, mas logo após, pararam, ofegantes e estupefactos! Na sua frente... um maravilhoso boneco de neve.
- Já?!... Boa descoberta, meu rapaz!... grita o pai entre o admirado e o satisfeito... pois a chamada urgente do miúdo não tivera nada de mal.
- Descoberta, não! É o meu trabalho, pai!... – replica Edgar muito senhor de si.
Seguiu-se entre a família uma minuciosa interrogação na troca dos olhares entrecortados pela cuidada observação do boneco, que, para espanto de todos... estava adereçado com o boné, o cachecol e o cajado de Edgar... do Edgar... que apresentava as mais fortes reprimendas a quem apenas tocasse em qualquer dos seus pertences!... É que, Edgar amava o seu boneco, e ao “Verdadeiro Amor” da vida, toda a gente se entrega sem contestações.
Tal como o Edgar, seja qual for a nossa idade ou condição, todos ambicionamos levar a cabo a realização de um qualquer sonho encantado.
Qual será o nosso sonho? Que ídolo estaremos a construir? Que material necessitaremos para levantar o boneco que ansiamos? Será que está bem configurado com o verdadeiro interesse do ser humano que todos somos?!...
Neste início de mais um ano, não sejamos apenas meros veraneantes pela estrada da vida... mas corajosos caminhantes na verdadeira estrada do amor que nos conduzirá ao Senhor Absoluto de tudo e de todos?!...
Que os nossos verdadeiros sonhos não se fiquem por lindos bonecos de neve... pois o sol logo os desfaz।


Hermínia Nadais
Publicada no Notícias de Cambra

domingo, 16 de março de 2008

ONDE COMEÇA A APRENDIZAGEM?...



A "Escola", Instituição, embora marque profundamente a vida de cada ser, é apenas uma pequenina etapa da sua aprendizagem, pois qualquer "Humano", para o ser, deve fazer da sua vida uma escola permanente.
Bem certo e mais do que nunca actual é o célebre ditado popular: "O Homem nasce a aprender e morre sem saber!..." E estamos todos convictos de que é assim! Mas, bem vistas as coisas, é ainda mais do que isso. Senão, vejamos:
Na época actual, ninguém pode negar a maravilha do eclodir da vida. Com poucas semanas de gestação, o minúsculo ser, qual peixinho inquieto num aquário quentinho que é o útero da mãe, pode já, ali mesmo, ser observado atentamente. Ele já possui todas as características de um corpo! De um corpo pequenino... com alguns centímetros apenas!... Mas... de um corpo perfeito e vivo. É que, já antes de nascer, ele vive e aprende. Se assim não fosse, como se compreenderia que um recém-nascido se sentisse tão bem junto da mãe... do pai... e até mesmo das pessoas mais próximas se nem sequer as vê ainda? É que, já na vida intra-uterina ele iniciou a sua aprendizagem descobrindo, pelo menos através da voz, o pequeno mundo familiar e íntimo que o rodeia. E esse mundo tem a sua génese na mãe e no pai. É por isso que os pais devem viver numa comunhão perfeita. O pequeno feto que se desenvolve vai sentindo tudo através da mãe. E se esta levar uma vida harmoniosa e estável, poder-lhe-á transmitir todo o seu bem-estar e ele crescerá muito mais saudável e feliz.
A esta parte, começa de haver um certo cuidado à volta das gestantes no sentido de lhes proporcionar o mais possível uma vida calma e tranquila. Mas ainda há muito a fazer, pois este comportamento está muito longe de ser generalizado. A grande maioria das pessoas ainda pensa que o "bebé", tão pequeno, não presta atenção a nada; e, pior ainda, se esse "bebé" se encontra escondido no ventre da mãe. No entanto, empírica e cientificamente falando, a verdade é bem diferente!...
Todos os animais conservam, instintivamente, os hábitos e comportamentos da espécie, adaptando-se ao seu habitat natural. Mas o "Homem", é mais do que isso!... Dotado de inteligência superior e racional, tem de ser tratado de uma forma muito cuidada e especial para que o seu desenvolvimento seja completo... (se é que, algum dia, o chegará a ser em plenitude). É no mais íntimo do seu ser que se operam todas as suas transformações. E, por mais esforços científicos que se façam, penso que nunca saberemos ao certo o valor das suas potencialidades genéticas, onde começam as suas reacções responsáveis nem o desabrochar do seu conhecimento. No entanto, a observação cuidada das aprendizagens conseguidas por bebés nos primeiros meses de vida, desde os movimentos instintivos do chuchar e satisfazer das necessidades físicas primárias ao limiar das acções cognitivas conscientes e desabrochar dos primeiros raciocínios, leva-nos a crer que, todo o processo de aprendizagem se concretiza, com maior ou menor esforço, com maior ou menor amplitude, com maior ou menor rapidez e eficiência, conforme as suas condições genéticas e afectivas, socio-económicas e culturais envolventes. E está provado que é assim, não podemos mudar as coisas. O "Homem" depende sempre das suas características hereditárias e do que o meio social lhe possa oferecer.
Quando ainda não podia ser detectada a possível razão de certos comportamentos na aprendizagem humano, até se compreende que muito erro tenha sido cometido. Actualmente, não. Não podemos dar-nos ao luxo de deixar passar certos comportamentos pessoais sem que nos sintamos um tanto responsávéis pelo seu acontecimento e pelo mal que eles causam na vida de cada um em particular e na de todos em geral. Como seres sociais que somos, as nossas acções estão interligadas e nada fica isolado. Assim sendo, ou nos esforçamos por melhorar a nossa vida proporcionando melhores condições aos vindouros e engrandecendo a sociedade, ou, perdemos as nossas oportunidades, retardamos o nosso sucesso e o dos outros. O "Homem", como ser social que é, quando pensa no bem do seu semelhante e na ajuda a prestar-lhe, ajuda-se a si próprio.
No dizer de um alguém muito importante,"Todo o homem que se eleva, eleva o mundo".
Educar é elevar। Como poderemos educar-nos, para podermos educar os que nos rodeiam?



Hermínia Nadais
Publicada no Notícias de Cambra

AS REACÇÕES SOCIAIS




Como a escola, por si só, não pode de forma alguma ser responsabilizada pela situação degradante dos tempos que correm e que parece agravar-se cada vez mais, devemos ser levados a reflectir calmamente sobre a pergunta que parece estar na génese da tão ansiada mudança de atitudes comportamentais:
«Qual será o papel de cada um de nós na educação dos nossos dias?!...
Por mais que se aprofunde esta questão, ela estará sempre envolta no maior mistério e descobrir o verdadeiro papel de cada um não é tarefa fácil.
O problema da “Educação" está na ordem do dia. Falam dela desde os mais altos governantes a nível mundial até aos mais rudes operários e agricultores escondidos nos barulhos infernais das oficinas ou nas aldeias perdidas, isoladas nas mais longínquas serranias. E então, arranjam-se as melhores e as mais absurdas propostas de solução. E como é óbvio em qualquer questão mais importante, entra-se num nunca mais acabar de críticas descabidas: criticam-se as leis dos governantes, os profissionais que as executam, os pais, as crianças, os jovens, os drogados, os bêbados, os delinquentes, os que têm saúde mental menos funcional e ainda todos aqueles que, sem pensarmos seriamente no "porquê" de suas atitudes, apelidamos de marginais. E é um "meio mundo a criticar o outro meio"... e as soluções acabam por ficar perdidas nesta imensidão de disparates!...
É que é muito fácil agredirmos os outros quando não vestimos o mesmo "casaco" e pensamos ter a nossa "pele" bem protegida. Quem critica emite juízos de valor em relação ao comportamento da pessoa criticada. Será que o criticador, se se colocasse por um momento só que fosse na situação vivida pela pessoa criticada, ainda a criticaria? Provavelmente que não, porque o que costuma acontecer na maior parte desses casos é que as criticas se fazem por falta de interiorização, reconhecimento e compreensão exacta das situações, suas causas, e seus efeitos que nem sempre são os inicialmente previstos. E temos de ter cuidado para não nos poder ser aplicado o dizer do velho provérbio popular: Quem critica, «vê o pequeno cisco no olho do outro e não repara na enorme trave que tem dentro do seu olho»; ou então, o que é pior ainda, finge não reparar...
Mas, não devemos culpar nada nem ninguém!... Reza a história que sempre assim foi... e, provavelmente, sempre continuará a ser... No entanto, é hora de nos debruçarmos um pouquinho sobre certas realidades, pondo de parte, de uma vez por todas, as críticas que não nos levam a lado nenhum. Não vamos destruir mas construir, porque as coisas são menos lineares do que o que parecem.
Ninguém é mau por querer, ninguém faz mal por querer e também ninguém está mal por querer!... Então, porque é que algumas pessoas se comportam de forma tão aberrante, cultivando em si próprias uma auto-destruição tão eminente?!... Todos os casos atrás descritos são de auto-destruição a diversos níveis: físico, mental, moral ou intelectual.
Reportando-nos à génese da pessoa humana, aparece-nos o chamado "Pecado de Eva" depois do qual toda a humanidade, por castigo, terá sido levada a travar uma luta constante entre o bem e o mal, a suportar o sofrimento e a própria morte.
Por mais que queiramos fugir desta realidade, a morte é um facto, o sofrimento existe, e olhando bem para o nosso interior todos sentimos bem forte o ressoar duma luta em que nem sempre a nossa parte boa consegue dominar o nosso mau instinto.
Por que não pensarmos um pouco caso a caso, para desvendarmos um pouco a causa de tanto procedimento errado que anda por aí?!...
Não sei a atenção que irão dar às pensadas e simples reflexões que tenciono fazer; não sei as críticas ou observações de que serei alvo; não sei o impacto que terão na vida particular de cada um; não sei se valerá a pena tanto esforço despendido... mas vou em frente com o meu desejo de há muito. Tenho levado uma vida profissional muito intensa, a prática e a experiência têm-me ensinado muitas verdades...
Se algo parecer errado, estou aberta ao diálogo com quem quer que seja e de qualquer forma possível, por bem e para bem da "Educação" consciente, livre e responsável.
Não tenciono fazer descrições tiradas de qualquer manual ou ideologia, mas somente basear-me nas observações e resoluções de acontecimentos vividos no meu dia a dia socio-profissional.
E são muitos, bem-hajam!


Hermínia Nadais
Publicada no Notícias de Cambra

"OS TEMPOS DE HOJE"


Qual será o papel de cada um de nós na educação dos nossos dias?
Sinceramente, não sei!... E penso bem que, sem parar um pouco para reflectir sobre esta grande questão, ninguém poderá saber.
Ocorre-me de momento uma célebre frase que me repetiram inúmeras vezes na minha mocidade e que, religiosamente, guardo comigo: «A educação de cada um começa vinte anos antes de nascer!...» Assim sendo, como poderá decorrer na época actual a educação de uma criança, se há vinte anos atrás tudo era tão diferente? Se a educação dos filhos, como é lógico, é a sequência da educação dos pais, qual será a realidade dessa sequência se as condições de vida são tão díspares das do tempo em que os pais de hoje cresceram!... Mas, ao fim e ao cabo, como crescem as crianças de hoje?!... Muito se tem feito para que se sintam bem, gozem de boa saúde e sejam felizes. Mas, de uma maneira geral, o panorama não é nada animador. Senão, vejamos:
Nos dias que correm são poucas as crianças que crescem na convivência exclusiva dos pais. São casos muito raros na sociedade actual. Algumas delas, e consideradas as mais felizes embora muito mimadas na generalidade dos casos, são criadas com os avós, à idade, mais livres de responsabilidades sociais para se ocuparem dos netos, enquanto os pais levam uma vida de trabalho intensa para poderem sobreviver neste mundo avassalador. Mas, a maior parte das crianças são entregues pelos pais a instituições ou a amas com a mais tenra idade, pois os escassos direitos de protecção à criança no desabrochar de sua existência assim o permitem. É nessas amas ou instituições que a criança passa a maior parte de sua vida. Que identificação educacional poderá ter com a família donde provem? Se, apesar de tudo, ainda puder ser bem acolhida pelos progenitores no pouco tempo que lhes cabe, algo pode ser feito. E se nesse tempo os pais estão deveras ocupados com a lide doméstica ou orientação da vida e não se dedicam aos filhos?!... E se, pior ainda, gastam o tempo em todo o lado menos na companhia do filho?...E se, para colmatar todos estes desvios de atenção de que o filho é alvo, o acariciam com a satisfação de todos os seus caprichos comprando-lhe tudo quanto quer e deixando-o fazer tudo quanto deseja?!... E se, no seio da família, a criança sente e observa entre os pais insatisfações, divergências de ideias, coacções e agressões constantes?... E se, mais que isso, pai e mãe vivem separados e disputam entre si a posse do filho... Com tanta necessidade do aconchego dos dois, como poderá a criança ser feliz junto do pai a pensar na mãe e junto da mãe a pensar no pai... Isto para não falar dos filhos de pais alcoólicos, indolentes, drogados, que são deixados entregues a si mesmo e à sua sorte. E aquelas crianças que, detectada a sua vida de amargura no seio familiar, são arrancadas drasticamente aos braços paternos para serem entregues em instituições, adopção ou famílias de acolhimento? Não ponho em causa o carinho e afecto que assiste à integração dessas crianças nessa nova forma de vida. Os casos que conheço, a esta parte, são da mais elevada consideração e estima. Mas, os traumas que esses seres arrastam consigo são deveras evidentes e indeléveis. A sua vida terá sempre a marca de um passado inesquecível. Diz a sabedoria popular que «dar à luz é dor e criar é amor» e é verdade. Pai é o que dá pão, carinho, amor, é aquele que ajuda a crescer na vida, mas o reconhecer que se foi separado de alguém a quem se está ligado para sempre pelos mais estreitos laços de sangue é algo de muito doloroso.
Todos nós nos preocupámos demasiado com a existência de crianças deficientes físicas, e fazemos tudo para lhes minimizar o sofrimento. É mais que lógico que assim seja. Mas... E o sofrimento moral, que na maior parte dos casos passa despercebido?!... Vamos deixá-lo no esquecimento? Não!... Nunca!...Jamais!...
A escola reconhece todas as fragilidades da sociedade, pois nela está o seu reflexo। A vida da escola e a escola da vida confundem-se na formação integral de um ser. Em face disso, para todos deixo mais uma vez, para reflexão, a pergunta que todos os dias faço a mim mesma: «Qual será o papel de cada um de nós na educação dos nossos dias?!...



Hermínia Nadais
Publicada no Notícias de Cambra

"DO ONTEM ATÉ AO HOJE"

Por incrível que pareça, é, na quase totalidade, da vivência mais ou menos adequada e profunda destas duas realidades que cada ser humano poderá ser mais ou menos realizado e feliz ao longo da sua existência.
Nem sempre os tempos foram como os de hoje, mas sempre o homem se esforçou por descobrir formas de vida mais atraente e sedutora.
Fazendo uma retrospectiva num passado longínquo perdido no tempo e apenas recordado pelos achados arqueológicos dispersos aqui e além, vemos neles uma prova das vivências de muitos antepassados onde encontramos diferentes tipos de cultura sobremaneira desenvolvidos nos mais diversos aspectos. Desde a representação dos acontecimentos através do desenho ritmado de diferentes figuras ou objectos ao aparecimento da escrita é fácil podermos observar o esforço despendido na forma de comunicar os conhecimentos adquiridos e as descobertas realizadas. Grandes homens, e muitos deles desconhecidos, passaram a vida a imaginar e a pôr em prática sistemas que hoje nos parecem fáceis. Ao olharmos para as letras do alfabeto e ao aprofundarmos a forma como se agrupam para formarem as palavras pensamos apenas na dificuldade encontrada em memorizar e enquadrar esses pequenos símbolos no desenrolar da nossa aprendizagem e na dos nossos educandos. E, na realidade, não pensamos um momento sequer no longo esforço despendido por tantos através dos tempos para que tudo seja, agora, tão acessível para nós. Ao olharmos a Matemática não conseguimos de imediato imaginar a contagem primitiva de um a um que deu origem à tão maçadora numeração romana, nem ao trabalho que tiveram no invento da numeração árabe. Se nos debruçássemos um pouco sobre todas as áreas de estudo e nos cientistas e descobertas por eles realizadas e a sua utilidade na vida de nossos dias, era um nunca mais acabar.
Seria, talvez, interessante, descrever o desenrolar de muitas dessas epopeias. Mas, ao decidir desenvolver este tema durante algum tempo tive outras intenções que não quero de forma alguma contrariar. Evoco agora um passado bem recente. Recordo os meus tempos de infância. Nessa época, a família, a escola, a aldeia, vila ou cidade inseridas na pequena comunidade paroquial constituíam a base de toda a formação de um indivíduo. Mas, nestes curtos anos que passaram a vida alterou-se de tal forma que, actualmente, não reconheço em nada os princípios que orientaram a educação que recebi. A calma, a paciência, a resignação, a submissão, que eram transmitidas de pais para filhos e tão bem aceites, os contos e as conversas à luz fagueira das velas nos longos serões de Inverno depressa se transformaram numa agitação de tal ordem que parece que o mundo não pára. Não há tempo para nada, no entanto, tantas coisas existem e que os nossos antepassados desejariam ter.
Neste fugaz tempo de mudança, em que a novidade de hoje é a antiguidade de amanhã, urge levar a sério tudo quanto nos rodeie e possa ser aproveitado para o pleno desenvolvimento de cada ser humano em todas as suas potencialidades। Qual será o papel de cada um de nós na educação dos nossos dias?!...


Hermínia Nadais


Publicada no Notícias de Cambra