segunda-feira, 24 de maio de 2010

UM POUQUINHO DE NÓS!


Falar de espiritualidade pode não ser compreensível para a maior parte das pessoas, uma vez que a maior parte das pessoas não vêem a espiritualidade como parte integrante de si mesmas, e por isso, de imediato, ligam o termo a algo de sobrenatural que, ou é favorável e ajuda, ou é desfavorável e estraga tudo, coloca a vida do avesso, de pernas para o ar.
Tendo em atenção estas e outras atitudes que estão muito vulgarizadas, vamos preparar-nos para podermos falar compreensivelmente sobre espiritualidade com uma pequena e muito rudimentar introdução em que vamos tentar analisar-nos a nós mesmos, assim, tal qual nos vemos, tendo em atenção a nossa realidade intrinsecamente temporal. Poderá até parecer uma brincadeira, mas com o tempo veremos que não é.
Então, quem somos nós? Somos… a Maria, o Manel, o Tono, o Quim… que nos apresentamos com um corpo… um corpo alto, baixo, magro, gordo, claro, escuro, com uns contornos muito bem alinhados ou trabalhados um pouco à pressa… com olhos castanhos, azuis, pretos… cabelos fortes, fracos, lisos, encaracolados, eriçados, encarapinhados e castanhos, louros, grisalhos… com pernas altas, baixas, gordas, esguias, mal chambradas ou esbeltas… dedos grossos, finos, compridos, curtos, com unhas muito bem ajeitadinhas ou mal cavacadas… queixo com covinha ou sem ela, orelhas pequeninas ou orelhudas, nariz bicudo ou achatado… pés de quarenta e quatro ou trinta e cinco… e é assim que nos vemos quando nos olhamos ao espelho e que as pessoas com quem convivemos nos vêem e nos conhecem, porque, de facto, somos assim. E cada um de nós é como é, e se não se assume, assim, tal como é, é porque em si algo não está bem.
Quer queiramos ou não, não podemos fugir desta realidade. O nosso corpo, com tudo quanto o compõe, quer gostemos e apreciemos, quer não, é o nosso bilhete de identidade social, é por ele que nos conhecemos e somos conhecidos e conhecidas.
E não dizemos vai ali o espírito da Maria… do Manel… do Tono… do Quim… mas vai ali a Maria, o Manel, o Tono ou o Quim, pois é o corpo que identifica a cada um de nós porque é com ele que marcamos a nossa estadia neste mundo.
E antes de começarmos a falar no algo mais que pertence intimamente a esse corpo, podemos ainda continuar a ver as inumeráveis formas como ele se poderá apresentar publicamente, ou melhor dizendo, como é que nós nos poderemos mostrar publicamente através desse corpo, pois ele, o nosso corpo, pode apresentar-se de muitas maneiras, esta é mais uma realidade que temos que aceitar.
Somos cidadãos do mundo, nascidos num qualquer país de um dos seus continentes… num determinado lugar, cidade ou aldeia… numa família pequena ou grande… rica ou pobre, bem ou mal formada… que é sempre uma ínfima parcela de uma sociedade!
E… por hoje… acho que é melhor ficarmos por aqui… a pensar na maravilha da nossa querida família e também da sociedade que a acolhe! E para que o nosso meio envolvente comece a ser bem melhor, vamos ser muito positivos olhando mais atenta e profundamente as coisas boas que dele podemos tirar.

Hermínia Nadais
http://textosdaescoladavida.blogspot.com

(Publicado no "Notícias de Cambra")

domingo, 9 de maio de 2010

As voltas que o mundo dá!


Que o mundo anda às voltas toda a gente sabe, e ainda bem que anda às voltas, pois se não fossem as voltas do mundo a noite seria sempre noite e o dia sempre dia, o calor sempre calor e o frio sempre frio. O mundo anda às voltas… claro que anda, anda às voltas giratórias… porque além destas voltas sempre iguais… quem dá as voltas não é o mundo, somos nós! Nós é que damos voltas… e voltinhas... na vida deste mundo onde nada é definitivo e a única certeza que temos depois do nascimento é a morte, morte que, nos últimos tempos, não se tem cansado de retirar da nossa companhia um sem número de amigos que continuarão para sempre indelevelmente marcados e carinhosamente guardados bem no fundo do nosso coração.
Dói muito ver as pessoas partir tão precocemente, claro que dói… mas dói ainda muito mais ver os nossos amigos e amigas a sentirem a dor amarguíssima da separação e a profunda aridez da saudade, saudade a que as voltas que damos no mundo acabam por nos habituar… a viver com o que temos. E neste viver, damos voltas à cabeça para descobrirmos a melhor forma de organizarmos a vida de modo a que se desenrole dentro da normalidade com fé, esperança, amor, calma e moderação. Precisamos também de dar voltas à memória para recordar o legado que esses entes queridos nos deixaram: as palavras, os gestos, as atitudes… e daí concluiremos que o mundo, se por um lado fica sempre mais pobre quando alguém parte porque o trabalho e presença desse alguém não mais o vai ajudar a crescer, mas mais rico porque, na ausência da pessoa, vemos mais claramente e interiorizamos mais capazmente as suas qualidades, que nos podem servir de exemplo e de normas de vida o que, consequentemente, nos pode servir de enriquecimento e crescimento global.
Cada pessoa é única e irrepetível, pelo que, depois de passar pelas voltinhas deste mundo, o mundo nunca mais será como dantes, porque toda a sua vida o tornará diferente, se para pior ou para melhor… a escolha é pessoal e intransmissível, urge saber e ter coragem de a fazer.
Assim sendo, neste tempo conturbado, olhemo-nos interior e exteriormente para nos conhecermos tal qual somos e perguntarmos a nós mesmos se estamos a ser, na verdade, pessoas coerentes, realizadas e capazes.
É preciso aprender a dar voltas ao coração para que o nosso amor total seja mais sincero e abrangente; a dar voltas à carteira para que o dinheiro nos chegue para as despesas do dia a dia e não nos desampare nos imprevistos do mês; a dar voltas ao meio ambiente para cuidarmos melhor das plantas e dos animais e tornarmos o mundo mais belo; a dar voltas à nossa solidariedade para partilharmos o que nos sobra com quem pouco ou nada tem; a dar voltas à nossa sensibilidade para nos alegrarmos com quem está alegre e nos entristecermos com quem está triste; a dar voltas à nossa pacatez para nos inquietarmos em tentar melhorar tudo o que nos rodeia e não dá ao mundo uma mútua aceitação, compreensão, tranquilidade, serenidade, paz e amor. Sejamos corajosos e decididos, pois só assim seremos os verdadeiros homens e mulheres de que o mundo necessita.

Hermínia Nadais

A publicar no "Notícias de cambra"

quarta-feira, 5 de maio de 2010

Um resposta convincente!...

Desejo, antes de mais, felicitar a Hermínia pelo excelente texto “Começo… dos começos”. E é excelente não por estar bem escrito (mas também), sobretudo porque traduz o sentir de alguém que se encontra “livre de pressões exteriores” e “preconceitos internos”.
Seria desejável que esta postura, onde sem dúvida se ajusta a “coerência entre as palavras e atitudes” (peço-lhe, Hermínia, desculpa por a citar, mas é para que entenda o quanto subscrevo o que escreveu) se estendesse em generalidade; porém – e agora socorro-me da alegoria da caverna, de Platão – ainda não todos saíram da caverna para entender que a verdade não é as sombras que se projectam nas paredes, mas a luz que faz com que sombras sejam projectadas.
Quem habitualmente lê este jornal e está atento, poderá lembrar-se que uma vez estivemos, eu e a Hermínia, em contradita nestas páginas e agora estranhará. Saiba-se que nem eu virei católico nem a Hermínia virou espírita; sucede que quando se respeita o outro no que ele é e acredita, as diferenças são dirimidas com argumentos serenos e não com gritos e anátemas. Daí a possibilidade do diálogo, da ponte, da amizade.
O diálogo inter-religioso é realmente possível. Sendo Deus único, tem necessariamente de ser o mesmo para todos; e os seus atributos não permitem posse, logo, não é mais de uns do que de outros. Mais que pertencermos a uma determinada religião, que é algo que se estrutura no exterior do ser, importa sermos religiosos, que é aquele sentido íntimo de ligação a Deus (chame-se-lhe porventura um qualquer outro nome) e se traduz no amar o próximo como a si mesmo. Esta vivência aproxima-nos de todos e de cada um e, como diz e bem a Hermínia, faz com que nos sintamos bem entre diferentes, porque estamos de bem connosco mesmos. Acrescento que a ligação que se estabelece entre o mesmo e o diferente é tal qual a que pela alteridade se estabelece entre o próprio e o outro: esta a relação perfeita que se acha estabelecida entre Deus e Jesus, os quais não sendo embora o mesmo, estão efectivamente unados (tal como os demais e inúmeros Cristos estão).
Como bom seria também que estivéssemos unidos, não tanto nem prioritariamente na filosofia, mas principalmente na prática da caridade, como Paulo de Tarso a define, e fora da qual não há salvação.
Um abraço para si, Hermínia, e para todos quantos o aceitem de “carinho, compreensão, paz”.

A. Pinho da Silva


“Ama… e faz o que quiseres!”


Depois deste maravilhoso texto do António Augusto, o amigão que com a sua coragem, valentia e coerência me ajudou a ser muito do que hoje sou, tenho a dizer que, por mais que me custe pelos inúmeros adjectivos com que me qualifica, o subscrevo na íntegra, pois se o não subscrevesse seria mentirosa.
É um texto bem curto mas de uma dimensão tão grande que cada parágrafo é um livro.
Gostaria de chamar a atenção, sobremaneira, para algumas das suas frases. É preciso, de facto, com a maior urgência possível, que busquemos a verdade, não nas sombras que nos parece que os nossos olhos vêem, mas no verdadeiro sentir dos nossos corações a que, muitas vezes, as palavras e expressões não conseguem dar voz.
Que cada um de nós, viva como viver, tente, a todo o custo, ser, realmente, luz para os demais.
Nesta rubrica sobre espiritualidade, cuja realidade, por mais dissecada que seja, nunca se esgotará, eu queria que todos os que conseguíssemos ter a coragem de nela participar, e que espero sejam muitos e muitas, interiorizássemos nas nossas vivências, ininterruptamente, a célebre frase de Santo Agostinho que, sendo curtíssima, perfaz toda a liberdade e realização de qualquer Ser Humano: “Ama… e faz o que quiseres!”
Quem ama não magoa, muito pelo contrário, faz tudo pela pessoa amada!... Quantas atitudes menos boas seriam mudadas… na face desta bendita terra… se todos conseguíssemos, de facto, amar verdadeiramente!

Hermínia Nadais
http://textosdaescoladavida.blogspot.com

Textos publicados no Notícias de Cambra, rubrica Espiritualidade